terça-feira, 11 de setembro de 2012

Encontrei Um Anjo


Encontrei Um Anjo

Este texto, foi escrito por um senhor, de nome Robson, que mora na cidade de Londrina e que perdeu sua filha Amanda de 3 anos de idade no mar, durante as férias.

Um dia desses eu estava sentado numa sala de espera aguardando a minha vez para cortar o cabelo. Estava muito distraído, lendo uma daquelas revistas que sempre existem em sala de espera, quando adentrou uma menina, linda, magra, muito branquinha e aparentemente, de uns sete anos de idade. Ela usava um arco a lhe prender os cabelos finos e lisos que iam até os ombros, roupas que denunciavam a origem pobre, mas que também mostravam um cuidado materno especial, pois estavam muito limpas e cheirosas. Era uma criança impossível de não ser notada, sorriso aberto, carisma à flor da pele e trazia numa das mãos um cartão de loteria instantânea, dessas conhecidas como raspadinha. Já completamente cativado não me preocupei em disfarçar o meu encanto e fiquei ali torcendo para que ela me dirigisse a palavra. Era como se eu soubesse que algo especial estava para acontecer.
- O senhor compra pra ajudar? É dez real...
- Reais, disse eu para ver a reação dela.
- É mesmo. Minha mãe sempre me corrige: dez reais. Mas o senhor compra?
- A minha vontade era comprar o cartão, mas não queria acabar logo com a conversa e continuei:
- Depende... Para ajudar o quê?
- É para ajudar a gente lá em casa. Meu pai está desempregado e a minha mãe está muito doente. Eu estou vendendo essa raspadinhas aqui para poder comprar leite para o meu irmãozinho. Ele tem dois anos e meio.
- A essa altura eu já tinha certeza de que compraria o cartão. Não que me comovesse além do normal com essa história tão comum, mas por que a menina era um encanto. Como é o seu nome?
- Amanda... Nossa! Como o senhor ficou vermelho!
- É que eu tive uma filha que se chamava Amanda... A última lembrança que eu tenho dela, ela era assim como você... Sabe? Em todo lugar que vou sempre encontro uma Amanda.
- Onde está a sua filha agora ?
- Ela morreu num acidente faz algum tempo. Talvez ela esteja vendendo cartões no céu pra ajudar lá em casa...
- O senhor ficou triste, né? Desculpa...
- Não, eu não estou triste. Mas o que é que a sua mãe tem?
- Eu não sei dizer não senhor. Mas o meu pai vive chorando escondido. Ele bem que tenta disfarçar. Eu também finjo que não noto, mas eu sei que ele está chorando. Eu não gosto de ver meu pai chorando. O senhor vai comprar, não vai? Eu vou contar um segredo: este cartão aqui está premiado, sabia?
- É? Onde você conseguiu este cartão? E como você sabe que ele está premiado?
- Foi um anjo que desceu lá do céu e me entregou para eu vender. Ele disse que é um cartão premiado...
- Um anjo?
- É! Por quê? O senhor não acredita?
- Acredito sim. Mas se o anjo lhe deu o cartão e disse que é premiado, por que você está vendendo? Por que você não o raspa e fica com o prêmio? Assim você vai poder ajudar toda a sua família, a sua mãe...
- Mas eu não posso ficar com ele não senhor.
- Por que não?
- O anjo me disse que era para eu vender por dez real.
- Reais!
- É, Por dez reais. E que não era para eu raspar ele, senão eu estaria sendo gananciosa. Eu não sei o que quer dizer essa palavra gananciosa, o senhor sabe?
- Eu também não sei não. Esse anjo fala muito difícil... Mas eu tenho certeza que você não é isso não...
- Ele falou que eu tinha de dar a sorte para alguém quem eu gostasse, e eu gostei do senhor. O senhor compra?
- Como você sabia que era um anjo de verdade?
- Ele tinha duas asas bem grandes e desceu voando lá do céu.
- Como era o nome dele?
- Ele não falou o nome dele não senhor.
- E você não perguntou?
- Se o senhor visse um anjo o senhor ia ficar fazendo pergunta?Eu fiquei foi mudinha
- E por que esse anjo apareceu logo pra você?
- É que eu estava rezando para o menino Jesus, pedindo para meu pai arranjar um emprego e pedindo para Ele curar a minha mãe, então o anjo apareceu para mim. Ele disse que se eu vendesse esse cartão que ele me deu, por dez real...
- Reais!
- É, reais... Se eu vendesse, Jesus já tinha autorizado ele a curar a minha mãe e a arranjar um emprego para o meu pai, mas, que se eu ficasse com o cartão só ia acontecer coisa ruim.
- Então se eu comprar o cartão que o anjo deu para você, só vai me acontecer coisa ruim?
- Não. O senhor não entendeu. Eu é que não posso ficar com o cartão. A pessoa que comprar, vai estar sendo boa e vai estar acreditando no anjo. Então, para quem comprar, só vai acontecer coisas boas. O senhor vai receber o prêmio e não vai mais ser triste.
- Quem disse para você que eu sou triste?
- O seus olhos e o seu jeito de falar. O senhor parece uma pessoa triste, sabia?
- Sabia... Tá bom. Eu compro o seu cartão. Deixando escapar um breve suspiro, Amanda agarrou os dez real e, num gesto que me deixou surpreso e muito feliz, me deu um beijo no rosto. Ela parou na minha frente e ficou olhando eu guardar o cartão no bolso, com um sorriso bobo nos meus lábios. Um tanto decepcionada ela perguntou:
- O senhor não vai raspar para ver se está mesmo premiado?
- Não. Eu tenho certeza de que está.
- Mas se o senhor não raspar não vai poder receber o prêmio.
- Eu já recebi o prêmio, quando você entrou aqui.
- Eu não entendi o que o senhor quis dizer.
- Mas o seu anjo entendeu, minha filha. O seu anjo entendeu, meu anjo... Ela foi embora meio que desconfiada, olhou pra trás algumas vezes e eu nunca mais a vi. Sempre que volto ao Toninho, ou paro na super quadra para alguma coisa, corro os olhos pelas calçadas.
Tenho certeza de que a verei um dia. Quero saber se sua mãe está melhor e se seu pai já arranjou um emprego. Quanto ao cartão, eu ainda não me atrevi a ra spá-lo e creio que nunca o farei. Gosto de acreditar que sou o único homem no mundo que ganhou um cartão de loteria premiado, dado por um anjo e trazido por outro. Quanto ao prêmio, penso que não pode haver um mais valioso do que esta história toda.

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